quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Comer ou suplementar? Eis a questão!


Parece que a cada ano que se passa o mercado de suplemento e da estética em geral, faz novas descobertas. Descobertas essa que, muitas vezes são até milagrosas. Suplemento para aumentar a produção de colágeno, suplemento para eliminar a camada grossa do panículo adiposo, suplemento para crescer cabelo e unhas, suplemento para produzir mais hormônio, suplemento para se tornar o Mr. Olympia em 15 dias, suplemento para ter o mesmo percentual de gordura do (salve, salve) Andreas Munzer, suplemento pra isso, pra aquilo…
Caminhando ao lado disso, vemos um crescente culto ao físico que não envolve mais apenas adultos, mas adolescentes, crianças, idosos, jovens… Aliás, é surpreendente ver como isso cada vez mais interfere nos comportamentos gerais da sociedade. Por exemplo, a 10 anos atrás, existiam poucos produtos light e diet nas prateleiras dos supermercados e, quando havia, o conhecimento sobre eles era escasso (não que, teoricamente isso tenha mudado muito). Hoje, temos uma grande quase que infinita de tudo quanto é produto dessas categorias (pasmem, mas cheguei a encontrar chocolates sintéticos 0 Kcal). E, apesar do preço ainda “salgado”, há um crescente consumo desses mesmos produtos. Mas ok, isso foi apenas um exemplo… Um exemplo para mostrar que as pessoas estão cada vez mais buscando corpos e aparência esteticamente ideal e/ou perfeita. E é bem esse pezinho que a indústria de suplementos sempre quis para fabricar fórmulas teoricamente milagrosas e, claro, lucrar milhões, talvez bilhões por ano. E, ano a ano esses produtos além de acessíveis, passam a ter similares (mesmo que mais baratos, o que aumenta ainda mais a concorrência), equivalentes ou, produtos iguais com rotulagem diferente (leia-se de outra marca).
A cada dia que você passa em uma loja de suplementos de ponta, seja no EUA ou até mesmo no Brasil, há alguma coisa nova. E isso pode ser um energético, uma proteína, um blend protéico, um ergogênico, um aminoácido isolado, um hipercalórico, um suplemento para queima de gordura, ou seja lá o que for. E isso, claro, brilha os olhos dos consumidores em sua grande parte. Digo ainda grande parte pois, a maioria nem ao menos sabe o que e porque está consumido aquilo (mas está). Muitos nem se quer buscam orientação profissional. Confiam no que o amigo disse, no que o professor de Educação Física (que é extremamente anti-ético) disse ou no que ele pesquisou em qualquer fórum da internet. Quanto achismo!
É muito fácil provar por A+B que tal fórmula (muitas vezes nem divulgada e patenteada por sigilo) é eficaz comprando testes ou burlando testes laboratoriais. Mais alguns dólares e um médico assina e, está tudo certo. E se isso já é tão fácil, imagine então persuadir o consumidor sem nenhuma evidência científica (leia-se na famosa lábia).
O ciclo, geralmente funciona assim: O garoto magro, o gordinho zoado na escola, a menininha que se acha gordinha ou a magrinha que se acha desprovida de corpo procuram uma academia qualquer, geralmente indicada por algum amigo bombadinho. Chegam lá, perguntam o que tomar antes de conhecer quaisquer princípios e, quem dirá protocolos, de alimentação, treinamento e descanso, recebem a orientação de um estagiário Manda-Chuva da academia sobre algum suplemento (usado geralmente da forma incorreta), perguntam para o amigo bombadinho se ele pode conseguir e ele indica uma loja, onde um monte de lorota é dita para você e, muitas vezes baseada nessas tais pesquisas que as próprias marcas de suplemento fazem (compram). Você sai de lá com o que desejava (ou foi persuadido a) comprar e mais uns três ou quatro suplementos complementares para otimizar os ganhos (ganhos esse que nem foram estimulado com um treino ainda). Resumidamente, você gasta seu precioso dinheiro, seu precioso tempo, muitas vezes sua preciosa força de vontade (quando existe) por algo que não necessariamente vai funcionar seja lá por qual motivo for. Você treina, toma suplemento, treina, toma suplemento e compra mais suplemento e toma suplemento, toma suplemento e depois treina de novo… E cadê os resultados? Simplesmente, não existem. Você se torna indignado com tudo e todos, se acha um lixo, para com os treinamentos, paga qualquer endócrino maluco, se entope de sibutramina ou testosterona e pronto, o ciclo recomeça novamente pois, quando descontinua o uso, adeus ganhos! Aliás esse ciclo não é nada diferente do que geralmente se faz com a fórmula mágica para emagrecer da amiga da irmã da prima da vizinha que é passado de fulana para ciclana e, pasme, todas continuam gordinhas.
Todavia, não posso continuar falando sobre a ilusão que muitas fazem em cima de suplementos sem antes alertar para o ciclo anterior no qual envolvem-se profissionais. Todo profissional é (ou deveria ser) qualificado para trabalhar na sua área. Logo, o professor recém-formado de educação física tem como função orientar o aluno nas atividades físicas, assim como o nutricionista de nutrir o paciente conforme as necessidades e o médico de avaliar, diagnosticar, prevenir e curar doenças. Logo, nenhum desses profissionais deve interferir na área do outro. A grosso modo, o professor de educação física não deve prescrever suplementos, o nutricionista não deve prescrever atividade física e o médico não deve bancar o Manda-Chuva. Isso seria o mesmo do cabeleireiro querer atuar numa farmácia, o farmacêutico atuar cortando carnes, o açougueiro vendendo programas de computador e o vendedor de softwares de computador cortando cabelo. Cada macaco no seu galho e ponto final! Salvo, claro, os preparadores físicos que acabam atuando multidisciplinarmente.
Tudo bem, mas voltando ao assunto do mercado de suplementos, você gasta, consome e não vê resultados. E muitas vezes desiste. Você tem coragem de chamar isso de progresso? Provavelmente está mais pra regresso, pois antes, você tinha a mesma forma física e, pelo menos, alguns reais a mais na conta do banco.
O mercado de suplementos dia-a-dia desenvolve formas do consumidor consumir mais, mais, mais e mais. Seja com o marketing de atletas, de pesquisas, de inovações, promessas. E, a verdade, é que isso gira em torno de vendas. É inegavelmente um comércio e que está cada vez mais competitivo. E é preciso para isso que haja evidências a fim de convencê-lo.
É evidente que muitos suplementos, de fato, otimizam o desempenho atlético. Mas até que ponto vale gastar R$220,00 em um óxido nítrico caro e deixar de comer alguns quilos de comida por dia?
Criam-se nomes mirabolantes para coisas simples como vitaminas. Criam-se promessas mirabolantes para suplementos a base de proteína (que muitas vezes nem tem tanta qualidade assim) e por aí vai… Dá pra acreditar?
Muitas empresas de suplementos, apesar de sérias, necessitam vender seu produto e elas não estão nem aí para os seus resultados a longo prazo. O importante é dar o que você “quer” (mas não por inteiro, pois você necessita consumir cada vez mais). Se o intuito é energia no treino, eles não vão recomendar que você coma mais carboidrato antes do mesmo. Vão criar uma fórmula muito mais cara onde pedem, inclusive, para você ficar sem comer por 3 a 4h antes de usá-la, simplesmente para te dar uma “falsa energia” durante o treino, fazendo você pegar um pouco mais de peso, suar mais ou até mesmo se sentir mais animado. E, talvez isso fosse mais barato com alguns gramas a mais de carboidratos e, quem sabe uma ou duas xícaras de café bem forte.
Aliá, devo também dizer que se entupir de suplementos e, ainda mais sem uma ótima dieta, descanso e treinos corretos, trata-se de desperdício. Suplemento, como o próprio nome já diz, tem a função de complementar ou suplementar algo e, algo que por sua vez é falho em uma dieta. Sendo assim, se a dieta nem ao menos existe, então há necessidade de complementar qual falta?
Mas o que fazer diante de tanto marketing, tantas recomendações, tanta disponibilidade de fórmulas caras e (ou não) milagrosas ao seu redor?
primeiro passo é procurar o profissional qualificado da área. Geralmente um nutricionista esportivo, um nutrólogo, um preparador físico ou algo do gênero. Cair em papo de vendedor de loja é a pior coisa que você pode fazer (apesar de muitos de fato entenderem do assunto).
Em segunda instância, a pesquisa, é a fonte do conhecimento. Pesquise artigos científicos e retire sua própria conclusão embasado em FATOS e não em achismo barato.
E em terceiro, seja criterioso com o que você faz com a sua vida, claro.
Em quarto, opte por suplementos confiáveis (tipos e marcas), afim de não cair em ciladas.
Há anos, os fisiculturistas usam suplementos nos quais podemos confiar em sua eficácia, como a creatina, o whey protein e os multivitamínicos. E, não é necessário pagar fortunas por wheys ou creatinas que prometem milagres. Tanto porque, eles não fazem esses milagres em hipótese alguma.
Waldemar Guimarães já dizia que na época de auge da Temple Gym (academia do Ex Mr. Olympia Dorian Yates) pouco ou, simplesmente nada se falava de suplementos. E, incrivelmente, muitos deles estavam presentes para o consumo e para venda lá. Todavia, eram suplementos simples, como proteínas, hipercalóricos e a salve, salve, creatina. E, completa dizendo que discussão de suplementos é tão superficial que, basicamente só é feita por pessoas que entendem muito pouco do assunto ou nem mesmo conhecem protocolos de treinos, alimentação e descanso correto.
Pense e saiba que os grandes fisiculturistas, demoraram anos para chegar em seu auge (e no passado, muitos deles sem suplementos ou, com a mínima quantidade existente na época). E, quando digo anos, não são 2 ou 3 anos, mas sim 10, 15, 20 anos… Anos esses que suplemento pouco fez diferença. Anos estes que a determinação e a busca do conhecimento foram bem maiores que potes de 2,26 kg de proteínas. Pense nisso!

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