“Quando não executamos atos de forma mecânica, podemos interferir no resultado para melhor”, esclarece neurocirurgião do Hospital das Clínicas de SP.
Quando alguém diz que é preciso ter foco e objetivo para conquistar resultados, não está mentindo. Bruce Lee, ator e praticante de artes marciais, dizia que “a concentração é a raiz de todas as grandes habilidades do homem”. Conquistá-la não é fácil. “A concentração é a atenção focada e sustentada por alguém em determinada tarefa”, define o neurocirurgião Dr. Fernando Gomes Pinto, do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Esta capacidade dos seres humanos pode influenciar diretamente na performance e nos processos motores. “O sistema piramidal, que se inicia nos lobos frontais – mais precisamente no giro pré-central – é o responsável pela execução de um ato motor no cérebro. O sistema extra-piramidal, composto pelos gânglios da base e cerebelo, é o responsável por ‘filtrar’ cada ato motor, deixando-o mais preciso. A concentração pode auxiliar desde o início de todo esse processo, para que o movimento já comece muito mais coordenado pelo planejamento prévio", explica o médico.
Foco e força
As artes marciais orientais já pregam um comportamento mental há milênios para poder aumentar potência, força e agilidade de seus praticantes e por meio da movimentação dos músculos do corpo, o cérebro executa sua vontade e muda o mundo físico ao redor do indivíduo, segundo o neurocirurgião.
“Quando não executamos atos de forma mecânica, podemos interferir no resultado para melhor.” Isso acontece porque o cérebro é programado biologicamente para “economizar” energia metabólica e, para realizar essa tarefa, ele usa o caminho do aprendizado do movimento, tornando-o “mecânico”. Pinto explica que quando uma pessoa está aprendendo a jogar capoeira, tem dificuldades em aprender a gingar o corpo e, ao mesmo tempo, escolher e aplicar os golpes, mas depois que aprende, este ato se torna intuitivo e, ao som do berimbau, o capoeirista não pensa mais em como “jogar”. “Mas ao se escolher estratégias para vencer a luta, o comportamento mental desempenha papel decisivo”, destaca.
Treino cerebral
Para conquistar a concentração e melhorar o desempenho no treino, é preciso praticar. Dr. Fernando Gomes Pinto conta que ao ter noção consciente do grupo muscular relacionado ao movimento que está sendo realizado, passa-se a ter maior capacidade de concentração no próprio corpo e na atividade. “Um treino de força pode ser encarado como um recurso ergogênico saudável e, lenta, mas progressivamente, a ‘concentração’ pode melhorá-lo.”
Caprichar na concentração para melhorar o desempenho é saudável, mas errar a mão na malhação, não. Até porque o overtraining pode comprometer a capacidade de focar na atividade física, já que o cérebro responde ao cansaço do físico.
O uso de substâncias para “turbinar” o desempenho também não é recomendável. “Todos temos um limite genético individual que pode ser alcançado pelo treinamento associado a um estilo de vida saudável. Estas substâncias podem de fato, temporariamente, avançar no limite físico do indivíduo, mas como isto não é natural, aumenta-se a chance de provocar doenças orgânicas e psico-comportamentais, além de desclassificá-los das provas”, lembra o neurocirurgião.
A vitória de uma prova, a melhora da performance, a superação dos limites podem ser alcançadas com maior facilidade quando a pessoa se prepara física e mentalmente para elas. “O treino da concentração é possível, mas a MOTIVAÇÃO pessoal é pré-requisito para que se consiga treiná-la”, conclui Dr. Fernando Gomes Pinto.
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