domingo, 15 de setembro de 2013

Cérebro pode se tornar um aliado do treinamento.

“Quando não executamos atos de forma mecânica, podemos interferir no resultado para melhor”, esclarece neurocirurgião do Hospital das Clínicas de SP. 

Quando alguém diz que é preciso ter foco e objetivo para conquistar resultados, não está mentindo. Bruce Lee, ator e praticante de artes marciais, dizia que “a concentração é a raiz de todas as grandes habilidades do homem”. Conquistá-la não é fácil. “A concentração é a atenção focada e sustentada por alguém em determinada tarefa”, define o neurocirurgião Dr. Fernando Gomes Pinto, do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Esta capacidade dos seres humanos pode influenciar diretamente na performance e nos processos motores. “O sistema piramidal, que se inicia nos lobos frontais – mais precisamente no giro pré-central – é o responsável pela execução de um ato motor no cérebro. O sistema extra-piramidal, composto pelos gânglios da base e cerebelo, é o responsável por ‘filtrar’ cada ato motor, deixando-o mais preciso. A concentração pode auxiliar desde o início de todo esse processo, para que o movimento já comece muito mais coordenado pelo planejamento prévio", explica o médico.

Foco e força

As artes marciais orientais já pregam um comportamento mental há milênios para poder aumentar potência, força e agilidade de seus praticantes e por meio da movimentação dos músculos do corpo, o cérebro executa sua vontade e muda o mundo físico ao redor do indivíduo, segundo o neurocirurgião.

“Quando não executamos atos de forma mecânica, podemos interferir no resultado para melhor.” Isso acontece porque o cérebro é programado biologicamente para “economizar” energia metabólica e, para realizar essa tarefa, ele usa o caminho do aprendizado do movimento, tornando-o “mecânico”. Pinto explica que quando uma pessoa está aprendendo a jogar capoeira, tem dificuldades em aprender a gingar o corpo e, ao mesmo tempo, escolher e aplicar os golpes, mas depois que aprende, este ato se torna intuitivo e, ao som do berimbau, o capoeirista não pensa mais em como “jogar”. “Mas ao se escolher estratégias para vencer a luta, o comportamento mental desempenha papel decisivo”, destaca.

Treino cerebral

Para conquistar a concentração e melhorar o desempenho no treino, é preciso praticar. Dr. Fernando Gomes Pinto conta que ao ter noção consciente do grupo muscular relacionado ao movimento que está sendo realizado, passa-se a ter maior capacidade de concentração no próprio corpo e na atividade. “Um treino de força pode ser encarado como um recurso ergogênico saudável e, lenta, mas progressivamente, a ‘concentração’ pode melhorá-lo.”

Caprichar na concentração para melhorar o desempenho é saudável, mas errar a mão na malhação, não. Até porque o overtraining pode comprometer a capacidade de focar na atividade física, já que o cérebro responde ao cansaço do físico.

O uso de substâncias para “turbinar” o desempenho também não é recomendável. “Todos temos um limite genético individual que pode ser alcançado pelo treinamento associado a um estilo de vida saudável. Estas substâncias podem de fato, temporariamente, avançar no limite físico do indivíduo, mas como isto não é natural, aumenta-se a chance de provocar doenças orgânicas e psico-comportamentais, além de desclassificá-los das provas”, lembra o neurocirurgião.

A vitória de uma prova, a melhora da performance, a superação dos limites podem ser alcançadas com maior facilidade quando a pessoa se prepara física e mentalmente para elas. “O treino da concentração é possível, mas a MOTIVAÇÃO pessoal é pré-requisito para que se consiga treiná-la”, conclui Dr. Fernando Gomes Pinto.

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